«Nenhuma Cassandra podia vaticinar que a geração da
Utopia que foi a de José Saramago encontraria, entre estes muros lembrados do
império perdido, a sua capela ardente e maravilhosamente imperfeita. A
realidade superou a ficção.
Mas só o fez porque, antes, a ficção, os sonhos
de papel de um poeta filho da terra e da sua transcendência, converteu as
suas fábulas em fábulas de ninguém e de toda a gente. Os muros sem norte
desta casa que a capital do País achou por bem conceder ao romancista que pôs
o nome da sua terra no ecrã literário do mundo são o rosário de contos que o
nosso fabulista-mor consagrou à sua musa Blimunda e ao numeroso séquito que a
acompanhará para sempre.
Com Saramago entra nesta casa uma geração que
desejou de olhos abertos, se não mudar o mundo, torná-lo digno de ser salvo
da sua irredenta inumanidade.
Cada um à sua maneira, Jorge de Sena, Vergílio
Ferreira, Agustina, traz a sua luminosa sombra para fazer companhia ao autor
de “Memorial do Convento” e de “Todos os Nomes”. Cada autor digno de memória
resume a literatura do povo a que pertence e do mundo inteiro. Que ao menos
aí sejamos a chama da única pátria que os ventos da História não apagam da
nossa memória precária.»
Eduardo Lourenço, Vence, 12 de Junho
de 2012
Sem comentários:
Enviar um comentário