LEITURAS

segunda-feira, 18 de junho de 2012

FUNDAÇÃO JOSÉ SARAMAGO - MANSAGEM DE EDUARDO LOURENÇO


Mensagem de Eduardo Lourenço para a inauguração da sede da Fundação José Saramago 

- 13junho2012, Casa dos Bicos, Lisboa.

«Nenhuma Cassandra podia vaticinar que a geração da Utopia que foi a de José Saramago encontraria, entre estes muros lembrados do império perdido, a sua capela ardente e maravilhosamente imperfeita. A realidade superou a ficção.
Mas só o fez porque, antes, a ficção, os sonhos de papel de um poeta filho da terra e da sua transcendência, converteu as suas fábulas em fábulas de ninguém e de toda a gente. Os muros sem norte desta casa que a capital do País achou por bem conceder ao romancista que pôs o nome da sua terra no ecrã literário do mundo são o rosário de contos que o nosso fabulista-mor consagrou à sua musa Blimunda e ao numeroso séquito que a acompanhará para sempre.
Com Saramago entra nesta casa uma geração que desejou de olhos abertos, se não mudar o mundo, torná-lo digno de ser salvo da sua irredenta inumanidade.
Cada um à sua maneira, Jorge de Sena, Vergílio Ferreira, Agustina, traz a sua luminosa sombra para fazer companhia ao autor de “Memorial do Convento” e de “Todos os Nomes”. Cada autor digno de memória resume a literatura do povo a que pertence e do mundo inteiro. Que ao menos aí sejamos a chama da única pátria que os ventos da História não apagam da nossa memória precária.»

Eduardo Lourenço, Vence, 12 de Junho de 2012

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