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Estamos perante o mais violento ataque com vista à
integral destruição do SNS e
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do direito constitucional à saúde que alguma vez um
governo ousou desencadear.
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A forma agora encontrada por este Governo foi a de
publicar no DR de 14/5/2012,
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II Série, um chamado procedimento de concurso público com
o nº 1921/2012 para
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colocar em autêntico leilão a contratação de médicos para
as instituições do SNS,
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por via de empresas privadas prestadoras de serviços.
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No conteúdo desse procedimento de concurso, importa
destacar, desde já, as
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seguintes questões fundamentais:
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- O critério de adjudicação adoptado será o do mais baixo
preço/hora.
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- Não existe qualquer exigência de qualidade nos
critérios de adjudicação.
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- Os contratos são válidos por períodos de 12 meses.
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- O prestador privado pode mudar sucessivamente os
profissionais que coloca
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numa dada instituição, desde que comunique com a
antecedência de 30 dias.
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- Contratação com empresas sem qualquer exigência de
disporem de um quadro
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próprio de pessoal médico.
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- Os profissionais colocados por essas empresas “ têm de
proceder ao
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preenchimento de um registo de presenças”.
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- Os médicos colocados por essas empresas nos Centros de
Saúde tem de efectuar
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“ pelo menos 4 consultas por hora” e “fazerem atendimento
pediátrico”.
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Nem uma palavra sobre a exigência de possuírem a
especialidade de medicina
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geral e familiar e sem nenhuma referência aquilo que é
considerado atendimento
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pediátrico.
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Será por médicos indiferenciados?
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- São definidos “lotes de serviços” para todos os
distritos do continente e são
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colocadas a concurso para essas empresas privadas
prestadoras mais de dois
|
milhões e meio de horas anuais, englobando as várias
especialidades médicas
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Este número de horas equivale ao horário completo de
cerca de 1700 médicos.
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Face à situação que está, assim, criada a FNAM vem
denunciar os seguintes
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aspectos:
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1- Para melhor dissimular o seu objectivo de sempre que é
a destruição do
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SNS e do direito constitucional à saúde este governo
inventou este concurso
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público para entregar serviços inteiros de várias
especialidades a empresas
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privadas de aluguer de mão-de-obra médica.
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Depois daquilo que tem sido a experiência desastrosa com
empresas deste
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tipo a nível dos serviços de urgência, onde a qualidade
da actividade
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desenvolvida é muito baixa e os custos muito elevados,
este governo decide
|
alargar a todos os serviços médicos esta actividade de
alienação do trabalho
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médico.
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2- Ao colocar em concurso aquele vultuoso número de horas
anuais, o
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governo mostra de forma muito evidente que pretende
enveredar por uma
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via de privatização dos serviços de saúde, desarticulando-os
e fazendo de
|
cada instituição pública de saúde uma “manta de retalhos”
com várias
|
empresas a deterem diferentes serviços e em clara
competição financeira
|
entre elas.
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Aquilo que é reconhecido há largo tempo no plano
internacional como a
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exigência central do trabalho em saúde que é o trabalho
de equipa está
|
formalmente destruída com esta medida governamental.
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3- Ao estabelecer como critério decisivo o mais baixo
preço/hora, ao definir
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que em cada hora têm de ser efectuadas, pelo menos, 4
consultas e sem
|
especificar uma carteira básica de serviços, bem como as
competências de
|
quem faz o atendimento pediátrico nos centros de saúde, o
governo reduz
|
toda a actividade assistencial dos serviços públicos de
saúde a uma lógica
|
taylorista de trabalho médico cronometrado e destinada
aqueles cujo
|
diferenciação técnico-científica é diminuta e, por
conseguinte, de baixo
|
valor salarial.
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4- Desde o ano passado que o Governo está obrigado
legalmente, por via da
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contratação colectiva, a realizar concursos públicos nos
vários
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estabelecimentos públicos de saúde para recrutar médicos,
mesmo nos que
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têm estatuto EPE, o mesmo acontecendo com os regulamentos
dos
|
concursos para a habilitação ao grau de consultor.
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As sucessivas desculpas para não terem sido desencadeados
esses
|
processos e a escandalosa impunidade das várias
administrações dos
|
serviços em não aplicarem essa legislação estão agora
devidamente
|
explicadas.
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O Governo estava a preparar esta medida de destruição do
SNS e não
|
queria implementar concursos que implicassem menos horas
para o
|
negócio das empresas privadas.
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5- Com esta
medida agora conhecida, torna-se indiscutível que o
|
comportamento da delegação governamental nas negociações
com as
|
organizações sindicais médicas, que decorrem há 5 meses,
em torno de
|
novos regimes de trabalho e respectivas grelhas
salariais, tem primado por
|
uma clara desonestidade política.
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Agora torna-se finalmente evidente que os sucessivos
adiamentos na
|
apresentação de propostas e os supostos mal-entendidos
acerca de
|
metodologias negociais eram meras encenações para ganhar
tempo até à
|
publicação destas medidas.
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6- Torna-se igualmente compreensível que o Ministro da
Saúde se mostre
|
sempre tão disponível para a inauguração de serviços
privados em zonas
|
geográficas onde decidiu encerrar serviços públicos e não
tenha encontrado
|
tempo para participar no 4º Encontro Nacional das USF
(Unidades de
|
Saúde Familiares).
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7- Esta actuação planeada por parte do Governo levaria à
destruição integral
|
do SNS, à destruição das carreiras médicas e da qualidade
do exercício da
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profissão médica, à destruição da contratação colectiva
que está em vigor e
|
transformaria o direito à saúde num qualquer bem de
consumo sujeito às
|
leis da oferta e da procura.
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Esta gritante insensibilidade social e este revoltante
desprezo pelo valor e
|
dignidade da vida humana tem de gerar uma imediata
repulsa de toda a
|
opinião pública.
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A FNAM desenvolverá todos os seus esforços para
contribuir activamente
|
para a derrota desta afronta a um direito humano tão
fundamental como é
|
o direito à saúde e está disponível para em conjunto com
as restantes
|
organizações médicas defender a qualidade da profissão
médica, as
|
carreiras e a contratação colectiva.
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Apelamos à insubstituível intervenção dos cidadãos na
contestação a mais
|
esta chocante ofensiva governamental contra o direito à
saúde.
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Coimbra, 31/5/2012
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A Comissão Executiva da FNAM
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