LEITURAS

sexta-feira, 1 de junho de 2012

DESTRUIÇÃO DO SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE


   





FEDERAÇÃO  NACIONAL  DOS  MÉDICOS


O Governo prepara-se para desencadear a integral destruição do SNS



Estamos perante o mais violento ataque com vista à integral destruição do SNS e
do direito constitucional à saúde que alguma vez um governo ousou desencadear.
A forma agora encontrada por este Governo foi a de publicar no DR de 14/5/2012,
II Série, um chamado procedimento de concurso público com o nº 1921/2012 para
colocar em autêntico leilão a contratação de médicos para as instituições do SNS,
por via de empresas privadas prestadoras de serviços.
No conteúdo desse procedimento de concurso, importa destacar, desde já, as 
seguintes questões fundamentais:

- O critério de adjudicação adoptado será o do mais baixo preço/hora.
- Não existe qualquer exigência de qualidade nos critérios de adjudicação.
- Os contratos são válidos por períodos de 12 meses.
- O prestador privado pode mudar sucessivamente os profissionais que coloca
numa dada instituição, desde que comunique com a antecedência de 30 dias.
- Contratação com empresas sem qualquer exigência de disporem de um quadro
próprio de pessoal médico.
- Os profissionais colocados por essas empresas “ têm de proceder ao
preenchimento de um registo de presenças”.
- Os médicos colocados por essas empresas nos Centros de Saúde tem de efectuar
“ pelo menos 4 consultas por hora” e “fazerem atendimento pediátrico”.
Nem uma palavra sobre a exigência de possuírem a especialidade de medicina
geral e familiar e sem nenhuma referência aquilo que é considerado atendimento
pediátrico.
Será por médicos indiferenciados?
- São definidos “lotes de serviços” para todos os distritos do continente e são
colocadas a concurso para essas empresas privadas prestadoras mais de dois
milhões e meio de horas anuais, englobando as várias especialidades médicas
Este número de horas equivale ao horário completo de cerca de 1700 médicos.

Face à situação que está, assim, criada a FNAM vem denunciar os seguintes
aspectos:

1- Para melhor dissimular o seu objectivo de sempre que é a destruição do
SNS e do direito constitucional à saúde este governo inventou este concurso
público para entregar serviços inteiros de várias especialidades a empresas
privadas de aluguer de mão-de-obra médica.
Depois daquilo que tem sido a experiência desastrosa com empresas deste
tipo a nível dos serviços de urgência, onde a qualidade da actividade
desenvolvida é muito baixa e os custos muito elevados, este governo decide
alargar a todos os serviços médicos esta actividade de alienação do trabalho
médico.
2- Ao colocar em concurso aquele vultuoso número de horas anuais, o
governo mostra de forma muito evidente que pretende enveredar por uma
via de privatização dos serviços de saúde, desarticulando-os e fazendo de
cada instituição pública de saúde uma “manta de retalhos” com várias
empresas a deterem diferentes serviços e em clara competição financeira
entre elas.
Aquilo que é reconhecido há largo tempo no plano internacional como a
exigência central do trabalho em saúde que é o trabalho de equipa está
formalmente destruída com esta medida governamental.
3- Ao estabelecer como critério decisivo o mais baixo preço/hora, ao definir
que em cada hora têm de ser efectuadas, pelo menos, 4 consultas e sem
especificar uma carteira básica de serviços, bem como as competências de
quem faz o atendimento pediátrico nos centros de saúde, o governo reduz
toda a actividade assistencial dos serviços públicos de saúde a uma lógica
taylorista de trabalho médico cronometrado e destinada aqueles cujo
diferenciação técnico-científica é diminuta e, por conseguinte, de baixo
valor salarial.
4- Desde o ano passado que o Governo está obrigado legalmente, por via da
contratação colectiva, a realizar concursos públicos nos vários
estabelecimentos públicos de saúde para recrutar médicos, mesmo nos que
têm estatuto EPE, o mesmo acontecendo com os regulamentos dos
concursos para a habilitação ao grau de consultor.
As sucessivas desculpas para não terem sido desencadeados esses
processos e a escandalosa impunidade das várias administrações dos
serviços em não aplicarem essa legislação estão agora devidamente
explicadas.
O Governo estava a preparar esta medida de destruição do SNS e não
queria implementar concursos que implicassem menos horas para o
negócio das empresas privadas.
5- Com esta medida agora conhecida, torna-se indiscutível que o
comportamento da delegação governamental nas negociações com as
organizações sindicais médicas, que decorrem há 5 meses, em torno de
novos regimes de trabalho e respectivas grelhas salariais, tem primado por
uma clara desonestidade política.
Agora torna-se finalmente evidente que os sucessivos adiamentos na
apresentação de propostas e os supostos mal-entendidos acerca de
metodologias negociais eram meras encenações para ganhar tempo até à
publicação destas medidas.
6- Torna-se igualmente compreensível que o Ministro da Saúde se mostre
sempre tão disponível para a inauguração de serviços privados em zonas
geográficas onde decidiu encerrar serviços públicos e não tenha encontrado
tempo para participar no 4º Encontro Nacional das USF (Unidades de
Saúde Familiares).
7- Esta actuação planeada por parte do Governo levaria à destruição integral
do SNS, à destruição das carreiras médicas e da qualidade do exercício da
profissão médica, à destruição da contratação colectiva que está em vigor e
transformaria o direito à saúde num qualquer bem de consumo sujeito às
leis da oferta e da procura.
Esta gritante insensibilidade social e este revoltante desprezo pelo valor e
dignidade da vida humana tem de gerar uma imediata repulsa de toda a
opinião pública.
A FNAM desenvolverá todos os seus esforços para contribuir activamente
para a derrota desta afronta a um direito humano tão fundamental como é
o direito à saúde e está disponível para em conjunto com as restantes
organizações médicas defender a qualidade da profissão médica, as
carreiras e a contratação colectiva.
Apelamos à insubstituível intervenção dos cidadãos na contestação a mais
esta chocante ofensiva governamental contra o direito à saúde.

Coimbra, 31/5/2012

                                                                    A Comissão Executiva da FNAM

 

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