Daniel
Oliveira (www.expresso.pt)
8:00 Segunda
feira, 14 de maio de 2012
"Estar
desempregado não pode ser um sinal negativo. Despedir-se ou ser despedido não
tem de ser um estigma. Tem de representar também uma oportunidade para mudar de
vida. Tem de representar uma livre escolha, uma mobilidade da própria
sociedade." Pedro
Passos Coelho
Há
pessoas que tiveram uma vida difícil. Por mérito próprio ou não, ela melhorou.
Mas não se esqueceram de onde vieram e por o que passaram. Sabem o que é o
sofrimento e não o querem na vida dos outros. São solidárias. Há pessoas
que tiveram uma vida difícil. Por mérito próprio ou não, ela melhorou. Mas
ficaram para sempre endurecidas na sua incapacidade de sofrer pelos outros. São
cruéis. Há pessoas que tiveram uma vida mais fácil. Mas, na educação que
receberam, não deixaram de conhecer a vida de quem os rodeia e nunca perderam a
consciência de que seus privilégios são isso mesmo: privilégios. São bem
formadas. E há pessoas que tiveram a felicidade de viver sem problemas
económicos e profissionais de maior e a infelicidade de nada aprender com as
dificuldades dos outros. São rapazolas.
Não
atribuo às infantis declarações de Passos Coelho sobre o desemprego nenhum
sentido político ou ideológico. Apenas a prova de que é possível chegar aos 47
anos com a experiência social de um adolescente, a cargos de
responsabilidade com o currículo de jotinha, a líder partidário com a
inteligência de uma amiba, a primeiro-ministro com a sofisticação
intelectual de um cliente habitual do fórum TSF e a governante sem nunca
chegar a perceber que não é para receberem sermões idiotas sobre a forma como
vivem que os cidadãos participam em eleições. Serei insultuoso no que
escrevo? Não chego aos calcanhares de quem fala com esta leviandade das
dificuldades da vida de pessoas que nunca conheceram outra coisa que não fosse o
"risco".
Sobre
a caracterização que Passos Coelho fez, na sua intervenção, dos portugueses, que
não merecia, pela sua indigência, um segundo do tempo de ninguém se fosse feita
na mesa de um café, escreverei amanhã. Hoje fico-me pelo espanto que diariamente
ainda consigo sentir: como é que este rapaz chegou a
primeiro-ministro?
In Expresso.pt de 14-05-12.
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