Manuel António Pina – Jornal de Notícias,
opinião
Seis meses
depois de lhe ter dado o seu aval, aprovando despedimentos fáceis e baratos,
menores indemnizações, subsídios de desemprego mais baixos e durante menos
tempo, menor retribuição das horas de trabalho, menos dias de férias, menos
feriados, limitação da acção sindical, etc., a UGT parece ter descoberto, agora
que o Código dos Despedimentos (é um eufemismo continuar a chamar-lhe Código do
Trabalho) foi promulgado, que tudo isso "é ma[u], nomeadamente por pôr em causa
o valor dos salários e do trabalho extraordinário".
Entretanto, ficou para as calendas a viril
ameaça feita há três meses pela mesma central de denúncia do Acordo de
Concertação Social se o Governo, em vez de só se preocupar com "a desregulação
laboral e a redução das prestações sociais", não activasse o previsto
"Compromisso para a Competitividade, Crescimento e Emprego". Na altura, João
Proença lamentava já que o Governo andasse a negociar "medidas no âmbito do
memorando da troika que [iam] contra o Acordo".
E, contudo, João Proença não pode queixar-se
de ter sido enganado. Passos Coelho avisara: "Temos que dar um passo atrás para
dar dois à frente". O passo atrás oferecido a Proença em troca do seu acordo a
200 passos em frente no sentido da desregulação laboral foi ceder na meia hora
de trabalho diário. O que, decerto por acaso, era uma exigência do
patronato.
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